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MEDITAÇÃO DIÁRIA

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Haiti e os "intérpretes da Lei"






Existe uma tendência dentro de cada um de nós de fazermo-nos intérpretes da Lei. Seria louvável (é uma das pedras de toque da Reforma), caso esta tendência não espelhasse a malfazeja natureza de nossas almas.
Jesus sempre atentou para isso, de forma que nunca deixou sem respostas aqueles que distorciam a Lei e os fatos ao seu redor, que esparramavam um evangelho caricaturado, em nada se assemelhando ás “boas novas” vividas e anunciadas pelo Bom Mestre.
Todas as vezes em que um sinistro assola e assombra o mundo, as mensagens pregadas nas igrejas diluem-se em exemplos que tomam estes mesmos acontecimentos para os encaixarem nas suas formas exegéticas e já (pré)conceituadas de sermões.
O terremoto no Haiti transformou-se no “exemplo-mor” dos pregadores e pastores, que viram nesta catástrofe a “mão de Deus” pesando sobre aquele povo; o cumprimento das profecias apocalípticas a respeito da volta de Cristo.
Se fizéssemos uma interpretação factual estrita, talvez de todo não estivessem errados aqueles que assim vêem esta catástrofe, porque na verdade, os fatos que agasalham o fim dos dias vêem acontecendo desde quando Jesus foi assunto aos céus e não somente no século XX ou XXI. Todavia, a história da Igreja e da humanidade prova que isso está longe de refletir os bastidores dos planos de Deus.
Desde que os cristãos começaram a ser perseguidos por Roma, associam-se tais infortúnios à volta de Cristo. Fizeram isso à época da destruição de Jerusalém em 70 d.C e continuaram a fazer em todos os grandes eventos que marcaram a humanidade e/ou a história da igreja. Quem não coçou a língua ou chacoalhou a mente para, na época do nazismo, associar Hitler ao anticristo? Quem, daqueles que acompanharam intensamente o sucesso do comunismo ou a Guerra do Golfo, não viram como um prenúncio do fim dos tempos? Muitas visões estavam obtusas e só queriam ver o que melhor se adequavam a suas expectativas pessoais.
O Haiti está sendo alvo de conjecturas do tipo: “isso foi um resultado das práticas religiosas africanas (magia negra, macumba, seja lá o que for!) no país!”. Então, faz-se a pergunta, porque Deus não pesou sua mão sobre o Irã, país assumidamente não-cristão e que tem um presidente que manifesta publicamente seu desejo de exterminar Israel (povo escolhido!!) e ‘varrê-lo do mapa’? Porque Deus não acaba logo com a Índia, país que tem milhões de deuses (entre eles vacas, ratos e macacos), cuja idolatria maltrata e escraviza o povo que não pode sequer mencionar o nome cristianismo, pois alguém pode ser apedrejado ou queimado? Porque Deus trouxe dissabores como o furacão Katrina e a queda das Torres Gêmeas aos Estados Unidos, país em sua maioria cristã?
Deus não tem dois pesos e duas medidas...
Bem sabemos então que essa interpretação dos fatos tem levado muitos “do nada” para “lugar nenhum”, e principalmente, tem colocado uma burca na igreja contemporânea, impedindo que a partir do caos, Deus faça nascer o amor e esperança através de sua Noiva naquele lugar.
Quantos foram os pastores que em vez de mencionarem a catástrofe no Haiti como conseqüência do Apocalipse, se dispuseram a levarem suas igrejas a orarem cinco, dez, quinze minutos (somente...) pelas famílias que lá sofrem de fome, dor e abandono? Quase nenhum...
O terremoto no Haiti serve como uma advertência de Deus sobre a igreja de nossos dias, a fim de que deixemos de ser o “interprete da Lei” (Lc. 10.25) para atuarmos como o “bom samaritano”. Enquanto milhares de cristãos no mundo se utilizam do sofrimento daqueles homens que perderam suas esposas e filhos, daquelas crianças inocentes e órfãs que vagueiam pelas ruas sem destino, daquelas mulheres que com as mãos na cabeça se desesperam por terem perdido casa, filhos e sonhos, outros têm entendido que na verdade, na lágrima de cada pessoa naquele lugar, esta uma lágrima de Deus, um espelho da cruz de Cristo.
Não foi para fazermos segregação que fomos chamados, para colocarmos haitianos de um lado e “cristãos ocidentais politicamente corretos” de outro. Não. Ambos fazemos parte da mesma desgraça adâmica e bancarrota da natureza humana. O que nos resta é darmos as mãos e mostrarmos ao mundo que existe um povo, uma família(!!), à qual Deus chamou para refletir sua graça neste mundo. Desse povo fazem parte eu e você e se não podemos ir até lá, que nossas preces cheguem à Deus como incenso suave à suas santas narinas, e de lá elas retornem em forma de conforto ao desespero dos homens.
Basta de intérpretes da Lei. Que os bons samaritanos se levantem, agitem suas bandeiras e bradem neste mundo vil que o amor prevalecerá, pois até a morte Cristo já venceu.
Que possam ser os cristãos (a mão visível de Deus nesta terra) o povo a conduzir a reconstrução do Haiti e fazer com que o “Deus de sonhos” venha nascer no coração dos homens daquele lugar!






Jimmy Deyglisson
Araguaína-TO, 01 de janeiro de 2010

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